Domingo de Ramos
Este domingo, que nos introduz no clímax da Quaresma, tem duas designações: Domingo de Ramos e Domingo da Paixão. Ele une dois acontecimentos na vida de Jesus, Nosso Senhor, separados por uma distância de seis dias, a saber: a entrada triunfal em Jerusalém e a paixão e morte. Este domingo introduz também na Semana Santa, durante a qual reviveremos espiritualmente a última semana de Jesus em Jerusalém, que termina com a sua morte e ressurreição. Observamos hoje, através da Palavra de Deus, os paradoxos.
O paradoxo da multidão. A mesma multidão que aclama Jesus com toda a reverência possível, quando entra em Jerusalém, pronuncia-se com vingança alguns dias depois a favor da sua crucifixão e da libertação de um malfeitor.
Jesus, que é de natureza divina, renunciou a todas as prerrogativas divinas (omnipotência, omnisciência…), para ser crucificado como um bandido comum, depois de ter sofrido todas as humilhações possíveis. Paulo dirá: nós pregamos um Messias crucificado, um escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas para aqueles que acreditam, Ele é a Sabedoria de Deus.
Pedro, muito entusiasta de seguir o seu Mestre até à prisão, nega-O; e os apóstolos, a quem Ele chamou de amigos, fogem todos, para se esconderem, quando Ele é preso.
Qual seria a nossa atitude se lá estivéssemos? Certamente, a multidão é semelhante a nós. Por vezes, cantamos os louvores do Senhor de cabeça erguida, mas logo depois comprometemo-nos em atos que não O honram. Quando recebemos os sacramentos (batismo, confirmação, matrimónio, reconciliação…) prometemos fidelidade e, como Pedro, preferimos a morte a trair o compromisso assumido perante Ele. Mas quantas pessoas das que receberam os sacramentos de iniciação ainda põem os pés na igreja? Quantos deles ainda estão dispostos a defender a sua fé cristã? Ou preferem escarnecer daqueles que permaneceram fiéis à Igreja? O que nos leva a desviar-nos dos caminhos percorridos no seguimento do Senhor? São as tentações e as dificuldades da vida. A multidão segue os estados de espírito. Quem quiser ir contra o fluxo da multidão é apontado, marginalizado e até perseguido. O medo de ser contrariados, de ficar em desvantagem ou de ser perseguido faz-nos sucumbir à tentação de agradar à multidão ou defender o amor próprio como Pôncio Pilatos ou como Pedro. Este último tentou seguir o seu mestre como tinha prometido e até defendê-lo no Jardim das Oliveiras. Mas a violência física e verbal dirigida ao seu Senhor levá-lo-á a negar que O conhece. Contudo, quando o galo canta, lembra-se do que o Mestre lhe tinha dito: “Antes que o galo cante hoje, ter-me-ás negado três vezes”. Assim, depois de ter tomado consciência da sua traição, fugiu para chorar. Quando o galo da nossa consciência canta para nos recordar as nossas traições, será que voltamos atrás ou que perseveramos nos nossos pecados, sufocando-o?
Nem todos fugiram de Jesus ou tiveram vergonha da sua humilhação. As mulheres seguiram-no até ao momento em que expirou, sentindo a impotência para refrear o mal. Por vezes fugimos da injustiça porque somos impotentes para a impedir. Estas mulheres mostram-nos que estamos errados ou somos cobardes, se não defendermos uma causa justa até ao fim.
Senhor, não nos trates segundo a nossa cobardia e a nossa indiferença diante das pessoas que sofrem como Tu e que encontramos nos nossos caminhos. Que a celebração da tua paixão desbloqueie o crescimento da nossa consciência para nos despertar do sono das nossas fraquezas, para podermos chorá-las amargamente como Pedro e erguer-nos contigo na Páscoa, mais determinados a confiar em Ti.