30 outubro 2023
30 out. 2023

E o sínodo 2021-2023?

Três confrades refletem sobre o sínodo recentemente concluído

por  Levi scj, Eduardo scj, Josimar scj

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Sabe-se que, a pedido do Papa Francisco, o Sínodo estava acontecendo dentro de um espaço reservado, no qual os resultados das discussões diárias alí permanecem, para que todos os participantes possam digerí-los e assimilá-los intensamente. Certamente, são muitas as riquezas humanas que brotam daqueles valiosos, intensos e longos diálogos entres as mais diversas culturas provindas dos cinco continentes. O que não é segredo são as temáticas abordadas durante o Sínodo, pois o Instrumentum Laboris do mesmo está à disposição de todos, com a esperança de que toda a Igreja siga atentamente as pegadas deste caminho sinodal.

P. Levi scj, P. J osimar scj, P. Eduardo scj

Neste contexto, sempre que se tem a oportunidade de encontrar alguns participantes do Sínodo para escutar deles como o Espírito Santo tem agido neste momento tão importante da vida da Igreja, este momento torna-se singular. O Sínodo, como sabemos, está se orientando a partir do seu tema: Por uma Igreja Sinodal – comunhão, participação – missão, e foi nesta direção que caminharam as partilhas dos religiosos e religiosas que residem e atuam em Roma, brasileiros em sua grande maioria, reunidos no Pontifício Colégio Pio Brasileiro, no último sábado, 21 de outubro. As partilhas, claro, focalizaram-se naquilo que poderia ser partilhado, sem ferir o compromisso com a reserva e a proteção de dados exigidos pela ordem do Sínodo.

Contudo, foram muito interessantes os testemunhos apresentados. Por exemplo, falou-se de uma das características principais do Sínodo, tão enfatizada pelo Papa Francisco, de que é o Espírito Santo o protagonista principal do Sínodo e não as ideologias ou diferentes posicionamentos diante de temas polêmicos, ao interno ou fora dos meios eclesiais. Convicto, no seu discurso de abertura, afirmava o Sumo Pontífice: “tenho a certeza de que o Espírito nos guiará e concederá a graça de avançarmos juntos”.

Portanto, quem conduz o Sínodo é o Espírito Santo e, para que isto possa acontecer mais livremente é necessário o silêncio, que tem um papel muito importante no decorrer das intervenções, debates e discernimento orante.  Silenciar e escutar o que não foi dito e, assim, permitir que caia no coração de cada um a palavra não pronunciada. Se quem guia os trabalhos é o Espírito, importante é saber acolher as suas moções, escutá-lo e refletir, discernir sobre o que o mesmo Espírito vai suscitanto nos corações. Se se aprende a ir por este caminho, não se necessita apressar-se a questionar sobre os resultados e exigir respostas instantâneas, aqui e agora. Há um processo e, nele, todos são guiados pelo sopro do Espírito de Deus.

O Sínodo traz, assim, um apelo a toda a Igreja, um apelo à escuta. O método aplicado, que está servindo a Igreja neste momento histórico se pauta na, assim denominada, “conversação no Espírito”. Não se trata, portanto, de defender posições nem de organizar militâncias ideológicas, mas de escutar uns aos outros no Espírito para entendermos que a diferença é riqueza e não obstáculo. Está é uma novidade, mas o próprio  Sínodo traz consigo o novo, e isso pode gerar medo porque tudo o que  é novo gera questionamentos. Contudo, quando se tem um coração puro, disposto a acolher e ouvir, não é necessário temer nem mesmo as tensões e as divergências. Quem tem a humildade de saber que não possui todas as certezas, que não possui a fé, mas dela participa, no Corpo de Cristo que é a Igreja, pode perceber a riqueza que vem da alteridade, do que é diferente e, por isso, enriquece, alimenta a vida eclesial e a dinamiza.

 O encontro aberto, franco, respeitoso e guiado pelo Espírito vence o medo. O encontro das Igrejas do Ocidente, magioritariamente de rito romano, por exemplo, com as Igrejas do Oriente, faz perceber quão amplos e diversos são os horizontes da nossa fé e que o que nos une é o mesmo Espírito que sopra sempre, e onde quer, servindo-se de lugares geográficos, culturas, convicções teológicas e modos de celebrar muito diversos. O sofrimento dos irmãos e irmãs do Oriente também unifica a Igreja e a faz solidária. Como é importante, nesse processo sinodal, verificarmos a nossa sensibilidade para com a Igreja que sofre.

Acima de tudo, o Sínodo não é um evento, não é somente uma reunião, mas um processo que deve envolver toda a Igreja. A Igreja é convidada a ser uma Igreja Sinodal, ou seja, em cada pequena comunidade, em cada assembleia litúrgica, em cada pastoral ou movimento, em cada comunidade religiosa, em cada paróquia ou diocese se poderá buscar este mesmo espírito de escuta do Espírito Santo, silenciando os corações, ouvindo os demais e fazendo-os participantes das decisões. A fé é partilha, é caminhar com o outro e a comunidade é o centro de vivência da fé. Portanto, é na comunidade que aprendemos a ser Igreja Sinodal e viver como Igreja Sinodal. Em comunhão, de coração aberto, participando e conscientes da missão, todos somos chamados a acolher este novo vento do Espírito para toda a Igreja: o Sínodo.

Acompanhemo-lo com expectativa, não aquela segundo o “mundo”, cheia de especulações e reservas, mas aquela segundo o espírito cristão, cheia da convicção fraterna de que ali, no Sínodo, estão irmãos e irmãs nossos, desempenhando um valoroso serviço. Contem eles com nossa consideração e intercessão.”

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