Solenidade da Anunciação
Nós, Sacerdotes do Sagrado Coração, já estamos bastante habituados com estas palavras do Diretório Espiritual: “Nestas palavras: Ecce venio, Deus, ut faciam voluntatem tuam: Eis que venho, ò Deus, para fazer a tua vontade [Hb 10, 7], e nestas outras: Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum: Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra [Lc 1, 38], encontram-se toda nossa vocação, a nossa finalidade, o nosso dever, as nossas promessas”. (DS, 13). Pode ser, no entanto, que não sempre nos recordamos do título que resume o conteúdo do parágrafo onde estas palavras estão inseridas: “O dom de si”. Eis que a festa que estamos celebrando hoje tem tudo a ver com isso: liberdade e dom.
Dehon foi um homem que leu toda a história da salvação como uma história na qual as relações entre Deus e os Homens e estes entre si são caracterizadas pelas palavras dom e abandono: oferecidas, acolhidas e vividas em liberdade. P. Dehon, em seus escritos, frequentemente enfatizava este tipo de atitude: Deus sé dá, Deus dá seu Filho. Constantemente nos recorda que Deus é doação de si mesmo, uma oferta libera e cheia de amor cujo destinatário é o próprio Homem.
Mas um dom não seria um dom, por mais amoroso que seja, se constrangido a uma resposta. Somente em liberdade um dom pode criar relacionamentos e dar forma à vida. E Maria aceita o presente, não imediatamente, não forçada, mas com grande liberdade. E é justamente na liberdade que sua vida vem moldada. Sim, sua vida vem formada pelo dom que acolhe: “fiat mihi secundum verbum tuum”.
É distintivo da revelação cristã que o dom, a liberdade e o abandono sejam intimamente interligados. Porque a vida que Deus quer dar, a sua vida, é sobretudo uma coisa: abandono. E nossa resposta? Maria nos ensina, não muito depressa, não apressadamente, mas livremente, com convicção e paixão. E isso porque acolher o dom de Deus significa doar-me ao meu amoroso Criador e às suas criaturas sofredoras, com liberdade e paixão.