Desafios e Oportunidades da Formação Inicial para a Interculturalidade
"A interculturalidade em uma comunidade religiosa começa com a hospitalidade, o que, em um sentido mais amplo, significa disponibilidade".
Ele é um padre polonês que serviu em três dos cinco continentes nos quais os Sacerdotes do Sagrado Coração (Dehonianos) estão presentes. Para P. Andrzej Sudol, scj, a interculturalidade é mais do que terminologia, é um modo de vida. Ajudar outros a viver e a trabalhar como membros de uma comunidade intercultural é uma paixão para ele, tanto que este foi o foco de sua tese de Doutorado em Ministério Religioso pela União Teológica Católica (Catholic Theological Union – CTU) de Chicago. Sua tese foi defendida com sucesso na tarde de quinta-feira, 29 de abril. Devido à pandemia, a defesa foi realizada via Zoom. Vários dehonianos, incluindo o P. Ed Kilianski, puderam assistir de seus próprios computadores.
O título da tese do P. Andrzej foi: “Desafios e Oportunidades da Formação Inicial para a Interculturalidade na Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração na Província dos Estados Unidos”.
O carisma dehoniano e a identidade de cada membro
Ele começou seus estudos na CTU em 2015, após servir como diretor de formação nas Filipinas e na Índia. Naturalmente, sua formação pessoal foi na Polônia, sua terra natal. Quando entrou para o programa de doutorado da CTU, P. Andrzej já havia feito parte da formação em três culturas diferentes. Além disso, foi-lhe pedido para ajudar numa quarta: o programa de formação para a Província americana. Seus estudos de doutorado passaram a ocupar parte de tempo para que ele pudesse conciliar com as exigências do programa de formação. Atualmente ele é o mestre assistente de noviços e diretor do postulantado.
Ele enfatiza que cada cultura dentro da Congregação deixa a sua própria marca em seus programas de formação. Mas há um elemento unificador em todo programa, que permite a interculturalidade: o carisma dehoniano e a identidade de cada membro – de onde quer que venha, ou onde quer esteja no mundo – como parte dos Sacerdotes do Sagrado Coração.
Para que os dehonianos possam viver e servir como comunidades interculturais, no âmbito de uma Congregação religiosa internacional, seus membros devem ser ensinados desde as primeiras etapas da formação “o que é a interculturalidade, sua dinâmica e suas habilidades”, disse P. Andrzej.
É preciso mais do que boa vontade. “Os candidatos devem ser treinados para a interculturalidade”, enfatizou ele.
“A maioria dos membros da Província [dos Estados Unidos], da qual um terço é internacional, acolhe a interculturalidade em teoria, mas desconhece as suas consequências”, escreveu P. Andrzej nas primeiras páginas de sua tese.
Desafios interculturais
O desafio é que a interculturalidade requer mais do que apenas acolher pessoas de culturas diferentes da sua. “Infelizmente, muitas vezes há uma expectativa de que os novos membros e candidatos internacionais abandonem sua própria cultura e identidade para assimilar uma nova”, escreveu P. Andrzej. “Isto não funciona bem”.
Dos atuais membros ativos da Província americana, mais de 30 nasceram fora dos Estados Unidos. Viver interculturalmente “é um processo desafiador, mas também profético, vivido de acordo com o espírito de nosso fundador, Leão João Dehon, e se assemelha à história deste país [Estados Unidos] construída sobre imigração e diversidade cultural”, escreve P. Andrzej.
A própria Província americana, cujo aniversário foi celebrado há poucos dias, em 25 de abril, foi estabelecida por um grupo multicultural de dehonianos imigrantes.
Então, onde se pode começar a aprender a viver interculturalmente?
“A interculturalidade em uma comunidade religiosa começa com a hospitalidade, o que em um sentido mais amplo significa disponibilidade”, disse P. Andrzej.
“Somente o homem que se aproxima dos outros, não para atraí-los para sua própria vida, mas para ajudá-los a se tornarem cada vez mais plenamente eles mesmos, pode realmente ser chamado de pai”. P. Andrzej usou a citação da encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco, para enfatizar o que é necessário para a interculturalidade.
“Uma atitude de coração e mente abertos, no espírito da fraternidade humana e da amizade social, permite que as pessoas se libertem do desejo de exercer poder sobre os outros”, escreveu ele. “Esta atitude aberta e amizade fraterna nos permite reconhecer e apreciar cada pessoa, independentemente da proximidade física, origem, posição social ou cultura”.
Sua própria experiência
Quando perguntado sobre sua própria experiência como dehoniano internacional estudando nos Estados Unidos, P. Andrzej disse: “Foi um desafio estudar na CTU, já que o inglês não é minha língua nativa. Mas, ao mesmo tempo, foi uma excelente oportunidade para aprender sobre a diversidade cultural e a realidade multicultural da Igreja nos Estados Unidos”.
“Sou grato a Deus e à nossa Congregação por esta experiência significativa. Sou abençoado por servir como diretor de formação na Província dos Estados Unidos. Este projeto de tese me ajudará a acompanhar nossos candidatos em sua jornada para se tornarem dehonianos interculturalmente”.