Feliz aniversário, caro Leão Gustavo Dehon!Notas para aqueles que levam seu nome...
A temperança, a prudência e a humildade são virtudes importantes. A Bíblia não é apenas sábia neste ponto, onde assume uma posição crítica em relação a acusações e julgamentos, mas é também, e acima de tudo, um testemunho das primeiras comunidades cristãs. Sendo assim, convém ressaltar que as linhas que seguem, talvez, digam mais sobre mim do que sobre o Padre Dehon. Podemos duvidar se o encontraremos nelas.
Nenhum ser humano está sozinho neste mundo. Nós temos que ver o P. Dehon em seu tempo e contexto e compreendê-lo com as pessoas que o cercaram. Estamos envolvidos em redes e, por isso mesmo, somos únicos. Do ponto de vista atual, Dehon foi certamente privilegiado, mas ele também estava inserido em contextos difíceis. Em primeiro lugar, poderíamos falar da sua realidade financeira e familiar, e em segundo lugar, da guerra cultural em que ele se encontrava.
Às vezes Dehon era dócil e afável, mas era também determinado. Ele nos dá a impressão de ser um empresário que funda um start-up (negócio inovador). Ele avança constantemente, se distingue como um líder e como um homem de ação. Faz parte do jogo, também, aparas as arestas; e isso nos faz pensar. Para ser honesto, magoa-me um pouco o fato que P. Dehon, enquanto consultor do Index, tenha “liquidado” um Joseph Brugerette. Isto provavelmente não foi de vanguarda. Por outro lado, eu não estaria escrevendo estas linhas se Dehon não tivesse algum poder persuasivo. Essa parece ser uma lei de nossas vidas.
A sua espiritualidade permitiu que ele aceitasse as derrotas. A Providência, segundo ele, o guiou, e ele tinha o dom de olhar para o futuro, de explorar o possível. É sua proximidade com a natureza e seu pronunciado amor pelas viagens que fizeram dele uma pessoa otimista, curiosa, de mente aberta e entusiasta.
É difícil chegar perto dele. Muitos dos seus textos são imbuídos pela sua vontade de se representar ou de representar alguma coisa, de transmitir uma mensagem. As suas cartas são, talvez, as mais eloquentes. O humor não está ausente, o encorajamento é um fio condutor comum e, como já mencionado, surge sempre um estilo de liderança focalizado. Ele, sem dúvidas, teria apreciado e-mails e mensagens instantâneas. Ele é um mestre da comunicação precisa.
Nós poderíamos dizer muito mais sobre ele. Por exemplo, que às vezes teria sido melhor se ele tivesse ficado quieto. Mas isso aplica-se a todos nós. Por outro lado, ele estava empenhado com a democracia cristã. Ele queria ajudar a configurar o mundo de acordo com suas possibilidades. Quem poderia censurá-lo por isso? Vejo nele um homem impregnado de religião, que amava o Magnificat. É isso que nos une; temos o mesmo discurso. A sua opção era pelos pobres, ele era socialmente comprometido, e não apenas cosmeticamente, incluindo duras críticas aos líderes.
Dehon pode ser considerado como um homem inteiramente eclesiástico – cristocêntrico, orientado pelo seu bom coração e suas boas intenções. Ele queria se concentrar para chegar ao essencial. Era obediente, não sempre aos seus superiores, mas sempre a sua comunidade de fé. Viu-a como um espaço místico – mesmo diacronicamente, através da história. Desde o início foi um homem controverso porque “fez as coisas acontecerem”. E ele sabia disso e foi capaz de lidar com isso de forma produtiva. Acredito que ele não foi vingativo e, em última análise, foi capaz de ver o bem em todos os homens.
O fato de a Congregação existir como uma comunidade religiosa deve ser considerado como o seu grande trabalho. Mesmo que não seja o único, ele é o pilar principal desta instituição, vossa comunidade! A história da Igreja mostra como tais comunidades são importantes para a vida e o futuro de nossa Igreja. Imagens como a do Coração de Jesus são “criadas” ali, são catalisadores da piedade duradoura e importantes pais e mães espirituais que aprofundam a vida e tornam possível um pouco de “vida em plenitude” e de “céu na terra”.
Por isso, agradecemos ao aniversariante! No próximo ano, por ocasião do seu 180º aniversário, deverá ser entregue um elogio mais digno – de preferência não por mim.