08 junho 2024
08 jun. 2024

Inspiração Sinodal para o Capítulo Geral

Sinodalidade, Sint unum e capítulo geral

por  Mariano Weizenmann, SCJ

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P. Mariano Weizenmann, da Província BRM, compara a dinâmica sinodal com a do Capítulo Geral. Ele enfatiza a afinidade entre a noção de sinodalidade e o Sint unum. A sinodalidade é uma boa dinâmica para a condução do próximo capítulo geral.
Nota: O artigo vem das comissões teológicas continentais da Congregação em preparação para o XXV Capítulo Geral.


Com Cervantes e Dom Hélder Câmara lembramos que “sonhar sozinho é apenas um sonho; sonhar juntos é o começo da realidade”. O sonho de Papa Francisco é o limiar de uma nova realidade eclesial, fraterna e sinodal. Cada evento congregacional, como o Capítulo Geral, é também isso. O tema do Sínodo Para uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão, caberia bem no coração e na orientação de Padre Dehon. Tanto o Sínodo quanto o Capítulo são dons a serem acolhidos na alegria e gratidão e tarefas a serem executadas com entusiasmo e determinação. O Sint Unum e a Sinodalidade indicam o estilo peculiar da vida e da missão eclesial e congregacional, expressam o modo evangélico de viver e agir.

O que significam Sint Unum e Sínodo e a que se referem? Sínodo significa o caminhar juntos, do Povo de Deus, ao passo que o Sint Unum é o jeito de fazê-lo. Remetem a Jesus, ‘o caminho’ (Jo 14,6), e aos cristãos, ‘discípulos do caminho’ (cf. At 9,2; 19,9). Sínodo (σύνoδος/sýnodos: σύν/sýn = “juntos” + ὁdós/hodós = caminho) tem a ver com Concílio. O grande evento conciliar desdobra-se e se atualiza pelos Sínodos. Semelhantemente, nossos capítulos preparatórios e subsequentes encaminham-se ao Capítulo Geral e dele partem. “A sinodalidade, nesse contexto eclesiológico, indica o específico modus vivendi et operandi da Igreja povo de Deus que manifesta e realiza concretamente o ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se em assembleia e no participar ativamente de todos os seus membros, em sua missão evangelizadora” (CTI, A sinodalidade na vida e na missão da Igreja, 6). O mesmo é predicável do Capítulo Geral, inspirado no Sint Unum.

Chamados a ser Um

Podemos parafrasear Papa Francisco e asseverar do Sint Unum para a Congregação o que ele afirma da sinodalidade para a Igreja: “é dimensão constitutiva da Igreja”, de modo que “aquilo que o Senhor nos pede, em certo sentido, já está tudo contido na palavra ‘sínodo’” (Francisco, “Discurso no 50º da Instituição do Sínodo dos Bispos”: AAS 107 / 2015, 1139).

Uma antiga oração ao Espírito Santo, atribuída a Santo Isidoro de Sevilha, professa: “Aqui estamos, diante de Vós, Espírito Santo: estamos todos reunidos no vosso nome. Vinde a nós, assisti-nos, descei aos nossos corações. Ensinai-nos o que devemos fazer, mostrai-nos o caminho a seguir, todos juntos” (Começo da Oração do Sínodo da Sinodalidade). Tanto agora como outrora, “decidimos, o Espírito Santo e nós” (At  15,28), o que fazer e como viver. O Espírito de comunhão ilumine nossos pensamentos, inspire nossos sentimentos, eduque nossos comportamentos!

O Papa alerta que o conceito de sínodo é “fácil de exprimir em palavras, mas não de ser colocado em prática”. Supõe a Igreja como “mistério” (sinal e instrumento de comunhão) e “Povo de Deus”, em que há diversidade de vocações e ministérios, mas “reina entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (LG 32).  É a Igreja servidora, em que a autoridade se expressa como serviço e o próprio primus inter pares se apresenta como Servus Servorum Dei. A mesma orientação e igual inspiração valem para nossa Congregação em particular e para a Família Dehoniana em geral: “Concedei-nos o dom da unidade de coração, mente e espírito, para darmos testemunho de vosso amor, no mundo em transformação” (da Oração para o XXV Capítulo Geral).

Para compreender a sinodalidade é preciso considerar também a colegialidade que, entre outros significados, designa o “ler juntos” a mensagem de Deus para nosso tempo. Aos confrades capitulares cabe ler os sinais dos tempos atuais, além das falas e dos silêncios do mundo em transformação, a partir do ler juntos a Palavra da Escritura e da palavra do carisma congregacional.

No mundo em transformação

Na abertura do 16º Sínodo dos Bispos, Francisco explicou: “Fazer Sínodo significa caminhar pela mesma estrada, caminhar em conjunto… Encontrar, escutar, discernir: três verbos do Sínodo”. Depois disse que “somos chamados a tornar-nos peritos na arte do encontro”, encontro com Deus, conosco, com os outros da comunidade e da Igreja, com os de outras igrejas e religiões, com todos quantos formamos os filhos dessa terra, com a própria terra…”. Este amplo sentire cum ecclesia vale também para o Capítulo Geral, uma vez que “o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”.

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1). Por isso, Francisco afirma: “incentivo todas as comunidades a ‘uma capacidade sempre vigilante de estudar os sinais dos tempos’” (EG 51).

Comunhão é comum + união e, como tal, expressa a dimensão jubilosa do caminhar juntos. Contudo, comunhão também é co + munere, no sentido de carregarmos juntos o múnus ou a tarefa comum de cristãos na comunidade eclesial e cidadãos na sociedade civil, propiciando a participação de todos, na missão que é de todos.

A Participação é o chamado a todos os que pertencem ao Povo de Deus na Família Dehoniana (ministros ordenados, religiosos, consagrados na laicidade e leigos dehonianos) para nos empenharmos no exercício da escuta profunda e respeitosa uns dos outros e de todas as vozes vitais do mundo. “A participação fundamenta-se no fato de todos os fiéis estarem capacitados e serem chamados a colocar ao serviço uns dos outros os dons que cada qual recebeu. Na Igreja sinodal, toda a comunidade, na livre e rica diversidade, é convocada para rezar, escutar, analisar, dialogar, discernir e aconselhar na hora de tomar as decisões pastorais de acordo com a vontade de Deus”. Participação compõe-se de parte + ação = a ação de cada parte para que o todo caminhe ativamente no seguimento e no testemunho de Cristo. Segundo São Cipriano (“Epistula, 14, 4”: CSEL III, 2; p. 512), nesta Igreja sinodal, “nihil sine epíscopo, nihil sine consilio vestro et sine consensu plebis” (nada deve ser feito sem o bispo/superior geral, nada sem o conselho dos presbíteros-diáconos/religiosos e nada sem o consenso do povo/outras formas de pertença à Família Dehoniana), pois “o objetivo do Sínodo é, sempre, alcançar o consenso” (in unum convenire).

Contudo, a realidade é muito adversa e o mundo sempre mais alheio à presença cristã… A esperança convida a sonhar e construir alternativas: Quem sabe, “estamos às vésperas de uma noite que é prelúdio para uma nova manhã?” (Martin HEIDEGGER, Caminhos de Floresta, 249, Fundação Calouste Gulbenkian, 1998). A crise é chance de crescimento, apelo à criatividade, convite à purificação e superação. “No sentido originário, crise significa situação de decisão. Em uma situação crítica, as estruturas e formas dadas até agora não são mais óbvias. E com isso, espaço é dado à liberdade e à possibilidade de ação. O futuro assim se torna aberto. É por isso que uma crise pode levar tanto à ruína quanto pode se tornar um kairós (Walter KASPER, Introduzione alla fede, Queriniana, Brescia 2003, 16).

A prática de consultar os fiéis já vem de longa data, com base em princípio do direito romano: “quod omnes tangit, ab omnibus tractari et approbari debet”/aquilo que diz respeito a todos deve ser tratado e aprovado por todos (cf. CTI, O sensus fidei na vida da Igreja, 122). Assim, a Congregação, enquanto expressão da Igreja, deve ser casa e escola da comunhão. Eis o grande desafio, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo em transformação (cf. NMI 43).

O Concílio Vaticano II mostra que a sinodalidade faz parte da essência da Igreja, pois diz respeito à toda Igreja e a todos na Igreja, de sorte que “Igreja e Sínodo são sinônimos” (João Crisóstomo). “A sinodalidade designa, antes de tudo, o estilo peculiar que qualifica a vida e a missão da Igreja, exprimindo a sua natureza como o caminhar juntos e o reunir-se em assembleia do povo de Deus convocado pelo Senhor Jesus na força do Espírito Santo para anunciar o Evangelho. Essa deve exprimir-se no modo ordinário de viver e operar da Igreja. Tal modus vivendi et operandi se realiza através da escuta comunitária da Palavra e da celebração da Eucaristia, da fraternidade da comunhão e da corresponsabilidade e participação de todo o povo de Deus, nos seus vários níveis e na distinção dos diversos ministérios e funções, na sua vida e na sua missão” (CTI, A sinodalidade na vida e na missão da Igreja, nº 70). Com Papa Francisco, o Sínodo se transforma de evento em processo e incentiva a que haja “no essencial, a unidade; na dúvida, a liberdade; em tudo, a caridade” (Santo Agostinho).

Para que eles creiam

O mundo em transformação continua a nos cobrar coerência, pois “o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres; e, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (EN 41). Igualmente, espera nossa contribuição para sua justa e solidária construção, uma vez que “o cristão e as comunidades cristãs vivem profundamente inseridos na vida dos respectivos povos, e são também sinal do Evangelho pela fidelidade à sua pátria, ao seu povo, e à sua cultura nacional, sempre, porém, na liberdade que Cristo trouxe, sendo que o cristianismo está aberto à fraternidade universal, porque todos os homens são filhos do mesmo Pai e irmãos em Cristo” (RMi 43).

Para muitas pessoas e povos, a única mensagem de Cristo é o testemunho dos cristãos: “Evidentemente, sois uma carta de Cristo, entregue ao nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo…” (2Cor 3,3). Por isso, oramos ao Senhor: “Que vosso Espírito Santo nos capacite a participar de vossa missão redentora, para que o mundo creia em vosso amor infinito” (da Oração para o XXV Capítulo Geral).

“Por meio do dom do Espírito Santo… todos os batizados participam da missão profética de Jesus Cristo, ‘a testemunha fiel e verdadeira’ (Ap 3,14). Eles precisam dar testemunho do Evangelho e da fé dos apóstolos na Igreja e no mundo. O Espírito Santo lhes dá a unção e os dons para esta alta vocação, conferindo-lhes um conhecimento muito pessoal e íntimo da fé da Igreja” (CTI, O sensus fidei na vida da Igreja, 1). Embora não conste em seus escritos, atribui-se a Francisco de Assis a recomendação sempre válida: “Pregue o evangelho em todo tempo; se necessário for, use palavras”.

Tal como o processo sinodal, também o Capítulo, tem uma dimensão profundamente missionária. Pretende que a Igreja/Congregação testemunhe melhor o Evangelho, especialmente com aqueles que vivem nas periferias espirituais, sociais, econômicas, políticas, geográficas e existenciais do nosso mundo. A comunhão desdobra-se na missão participada e a missão amplia a comunhão participativa.

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