Carta para a solenidade do Sagrado Coração de Jesus,
11 de junho de 2021
Entre as facilidades oferecidas pela tecnologia das comunicações, uma delas é conhecer com bastante precisão a localização de pessoas e lugares, as rotas, os horários e os meios disponíveis para chegar a qualquer local ou destino da maneira mais rápida e conveniente. Estas vantagens, no entanto, ainda não estão disponíveis para todos. Há muitos lugares onde faltam os meios e as estruturas básicas para que todas as pessoas tenham acesso a elas. Mas independentemente dos meios e da tecnologia, o que faz sentido é estarmos cientes de onde estamos e para onde vamos.
Celebrar a solenidade do Sagrado Coração de Jesus é uma oportunidade para examinar onde nos encontramos na estrada que estamos fazendo, e a maneira como a estamos percorrendo e compartilhando. Cabe a nós nos situarmos neste contexto global que tem trazido tanta inquietação. Para uns mais do que para outros, uma certa regularidade na vida e nas atividades está sendo recuperada. Mas o sofrimento continua e as dificuldades não faltam. Em meio a tudo isso, é necessário que tanto pessoalmente quanto em comunidade, enquanto agimos, continuemos a refletir e responder a perguntas essenciais: o que tudo isso nos deixou? O que estamos aprendendo? Como temos reagido? Entre estas e tantas outras perguntas possíveis, não deve faltar uma: como prosseguir? Como pessoas que acreditam, é mais do que legítimo, talvez necessário, que a questão se torne um humilde apelo, assim como tantas pessoas e povos têm feito e continuam a fazer em circunstâncias onde nem tudo é claro:
“Fazei-me sentir, logo, vossa bondade,
porque ponho em vós a minha confiança.
Mostrai-me o caminho que devo seguir,
porque é para vós que se eleva a minha alma” (Sl 143,8).
Se considerarmos nosso Fundador em sua busca por uma resposta às suas perguntas vocacionais e existenciais, Pe. Dehon privilegiou o encontro assíduo com a Sagrada Escritura. Andando de mãos dadas com o evangelista São João em situações decisivas, ele encontrou uma inspiração particular para sua jornada e seu trabalho. Disso ainda há um traço firme em nossas Constituições:
“Com o apóstolo São João,
vemos no Lado aberto do Crucificado
o sinal do amor que,
na doação total de si mesmo,
recria o homem segundo Deus.
Contemplando o Coração de Cristo,
símbolo privilegiado desse amor,
somos fortalecidos em nossa vocação.
Somos, com efeito, chamados
a inserir-nos nesse movimento de amor redentor,
doando-nos aos irmãos, com Cristo e como Cristo” (Cst 21).
Aproveitemos a ocasião desta solenidade para nos aproximarmos mais uma vez do pé da cruz, onde o evangelista São João nos coloca com a mãe de Jesus e algumas outras mulheres. Mas o olhar do Filho tem um alcance ainda maior. Com seus olhos, o próprio Jesus nos faz ver que o discípulo que Ele ama também está próximo de Maria. Do alto, seu olhar se prolonga sobre eles. Outros não estão lá porque tiveram medo, ou porque ficaram desapontados. Alguns se distanciaram e se isolaram; outros se perderam durante a noite. Nem todos eles sabiam como ser próximos. Mas para Jesus o importante agora é mostrar aquela proximidade que é dada em sua Mãe e naquele discípulo. Ele olha para eles (Jo 19,26).
É um momento de trevas (Mt 27,45), sim, mas somente até que Jesus fale. De fato, assim como o Pai fez no início (Gn 1,3), a palavra do Filho ilumina a cena e nos permite compreender que o que está acontecendo ali não é uma tragédia irremediavelmente sujeita ao caos do ódio, das mentiras e da violência. Pelo contrário, é a configuração de um caminho que nasce na fragilidade daqueles que não têm outra forma de poder além do amor à Vida e de saber ser vizinhos. Quando o Filho contempla a proximidade entre a Mãe e o discípulo, parece que Ele está reconhecendo a própria proximidade do Pai com Ele e com toda a humanidade, uma proximidade que se estende sem medida para além da aflição.
Talvez seja por isso que Jesus, com sua palavra, convida ambos a considerar um horizonte maior, Ele lhes mostra um caminho que começa precisamente por assumir a validade do que eles mesmos são e não devem deixar de ser: mulher e filho, mãe e discípulo. Cabe a ambos, como um dom que lhes foi confiado, cuidar um do outro como mãe e discípulo, e de nenhuma outra forma, para que a verdadeira família possa ser reconhecida neles: aquela que nasce de fazer a vontade do Pai (Mc 3,34ss.). Para Maria e o discípulo, o que eles viram e ouviram aos pés da cruz foi transformado em uma missão. Eles entenderam que Jesus os estava chamando para caminharem juntos, para compartilharem a vida. Eles foram dóceis e ousados em se oferecer ao que podemos bem chamar de sinodalidade que nasce do Coração do Filho.
Antes que o lado fosse aberto, a prontidão de Maria e do discípulo precedia o sangue e a água que corria do lado ferido. São eles, a Mãe e o discípulo, que são os primeiros a fluir do olhar, da Palavra e das entranhas de misericórdia de Jesus. Na medida em que aderem a Cristo, eles são a figura e o modelo da Igreja discípula e materna que, unida ao Redentor, rega, repara e regenera a humanidade e a terra. É lá que nossa Congregação e toda a Família Dehoniana devem se encontrar novamente, ser inspirados e sempre renovados. É lá que devemos aprender a continuar caminhando.
Que a contemplação do Coração de Cristo, junto com Maria e o discípulo amado, continue a mover nossas vidas a de nossas comunidades e famílias, para que em meio a esta história que compartilhamos, intimamente unidos a Ele, e com particular atenção aos mais indefesos, não deixemos de contribuir para a instauração de seu Reino nas almas e na sociedade.
Nele, fraternalmente,
P. Carlos Luis Suárez Codorniú, scj
Superior Geral e o seu Conselho
🇵🇱 Panie, okaż nam drogę, którą mamy kroczyć
🇮🇩 Tuhan, Tunjukkanlah kepada kami, Jalan yang harus Kami Tempuh