09 outubro 2020
09 out. 2020

Muitos são os chamados

por  Gonzalo Arnáiz Álvarez, scj

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Na parábola de Jesus (Mateus 22, 1-14), fica explícito o convite de Deus (Pai) para a festa de um casamento; para o casamento de seu filho. Um convite para o banquete por excelência, entre as festas das comunidades e das cidades. Está claro que o convite nasce da iniciativa de Deus e que se dirige, nesta ocasião, ao povo de Israel. Este convite é recusado e se estende, então, a todos os caminhantes  e estradas do mundo inteiro, que saem ou vêm a Jerusalém. E o convite não tem protocolo. Bons e maus, todos são convidados.

Jesus está dizendo que a oferta de salvação de Deus, não há quem a páre. Que Ele continuará a ser fiel e que a oferecerá em todos os momentos e em todos os lugares. O amor de Deus não tem limites, e verdadeiramente Deus quer que todos os homens sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade. O banquete está repleto de convidados.

Mas… há sempre um Porém! Será que nunca podemos fazer a festa em paz?  É que a festa, o banquete, os dons de Deus são gratuitos, mas não supérfluos ou banais. Temos que aceitá-los como eles são, caso contrário serão perdidos e estragados. Assim como Israel (ou os líderes do povo) não souberam ouvir ou aceitar os múltiplos convites que lhes foram feitos pelos profetas ao longo da história e, além de tudo, estiveram a ponto de não aceitar o convite do próprio Filho (o noivo do casamento), assim também os convidados de todos os tempos, entre os quais estamos, podem fazer o convite soar mal, dizendo que temos outras coisas mais importantes para nos ocupar e não perder nosso tempo em festas ou quimeras.

O final da parábola sempre me deixa chocado. Pois vem a pergunta, o que aquele pobre homem que não usa o devido traje, pode fazer, se ele estava na rua, quando foi convidado para o banquete. Certamente, o traje do casamento não pode ser outra coisa, senão a atitude pessoal. O Rei chama de “amigo” aquele que entrou sem o traje de casamento. Havia outro, a quem Jesus chamou de “amigo”, e ele também não mudou. O amigo do rei permanece mudo. Ele se fecha em si mesmo. Ele não se deixa invadir. Ele não sai, ele não se comunica. Ele já está fora da festa, fora da comunhão, fora da gratuidade. Ele permanece sozinho, isolado. Isso já é o choro e o ranger dos dentes. Incomunicação absoluta. Não aceitar a gratuidade e a comunhão; não aceitar o banquete. Ele é expulso ou ele mesmo se põe para fora, se exclui. Ninguém expulsa Judas. Ele simplesmente vai, se retira e se suicida. Essa é a alternativa, para não permitir, ser invadido por Deus. É exatamente o oposto da salvação. A não-salvação do homem é uma possibilidade real. Nossa vida tem “peso”, tem valor. O valor nos é dado pelo próprio Deus, no momento em que ele se nos dá e nos contagia. Se nos fecharmos a essa possibilidade, nossa vida perde peso e consistência. Será como o sal que perde seu sabor e se torna inútil.

Chegou a hora de nossa decisão. Não tenhamos medo de confiar em Deus. Vamos trabalhar para limpar tudo o que é anti-fraterno entre nós. O Papa Francisco, em sua encíclica mais recente, abre-a com o grito de São Francisco: Todos irmãos! É isso mesmo. Reconheçamos que somos todos irmãos; é motivo de alegria para nós; agradeçamos e lutemos por essa fraternidade, à qual nosso Pai comum nos chama através de seu Filho Jesus Cristo, o “Enviado” como “Emanuel”.

 

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