Deus guia a história a seu modo e, porque ama e quer bem ao seu povo, torna-se presente no meio dele, na hora certa, para lhe oferecer felicidade. As palavras de Baruc são carícias para Jerusalém, aqui personificada em momento de amargura e desânimo. O profeta exorta-a a abandonar a veste de luto e aflição e a vestir-se de festa, a renovar-se, de modo que, do seu ser e do seu agir, emane a presença luminosa de Deus, justo e misericordioso. Assim poderá alegrar-se com os filhos que Deus lhe entrega triunfantes, depois dos anos de sofrimento no exílio.
O evangelho afirma que a Palavra de Deus “foi dirigida a João”, ou, mais precisamente, “pousou sobre João”, homem rude e austero, que vive no deserto. Deus confia-lhe a missão de inquietar as consciências adormecidas, de lhes indicar o caminho, e fazer florir os desertos espirituais e existenciais. O Precursor incarna bem o espírito de Advento.
Lucas enquadra historicamente João Batista e a sua missão. A vinda de Deus ao encontro dos homens, para os confortar e lhes apresentar um projeto de salvação e felicidade, não é lenda, mas história real, situada num momento histórico, com acontecimentos, pessoas e lugares concretos.
O evangelista apresenta João como “uma voz que grita no deserto” e convida a preparar os caminhos do coração para que Jesus, o Messias de Deus, possa ir ao encontro de cada homem. Não o faz por iniciativa própria, mas porque lhe “foi dirigida a palavra de Deus”. O Precursor “proclama um batismo de conversão, para a remissão dos pecados”. A palavra “conversão” sugere uma revolução da mentalidade, que leva à transformação total da forma de pensar e de agir, a reequacionar a vida, as prioridades e os valores. Só os corações convertidos estão prontos para receber a visita de Deus, no seu Messias, Jesus.
Para nós, hoje, preparar a celebração do Natal, e esperar o regresso de Cristo glorioso, no fim dos tempos, significa acreditar nele, criar espaço para que possa habitar em nós, deixar que converta a nossa vida e nos revele o rosto do Pai, que a todos acolhe e perdoa.
A citação do Deutero-Isaías, com que termina o texto evangélico, refere-se à libertação dos exilados em Babilónia, servindo aqui para anunciar que está próxima a nossa libertação. Há que deixar-nos transformar para acolher “a salvação de Deus” oferecida a todos e a cada um de nós. A nossa inteligência, iluminada pela fé e animada pelo amor, permite-nos reconhecer a Deus, hoje e sempre, quando vem e quando vier.
“Vem, Senhor Jesus!” Vem libertar aqueles que, ainda hoje, vítimas de prepotências e injustiças, são deportados, violentados ou suprimidos.
No tempo do advento, devemos fugir das dissipações mundanas… entregar-nos à oração, ao recolhimento, ao silêncio, à meditação, para nos prepararmos para as grandes graças de Natal (Padre Dehon, ASC 503).