Mensagem final do Seminário Teológico realizado na Universidade ESIC de Madri, de 7 a 11 de maio de 2023.
1. A sociedade muda tão rapidamente que parece não termos tempo de nos acostumar com nenhuma novidade. Um instante passa é imediatamente sucedido por outro. E o importante, onde fica? Como anunciar o Evangelho num mundo em mudança com um mercado que nos seduz com promessas de felicidade que se compram nas lojas? No final do seminário “Rumo a uma economia para todos: inclusiva, sustentável e justa”, realizado na ESIC de Madri de 7 a 11 de maio, nós, membros participantes, queremos compartilhar com vocês, irmãos de Congregação, as respostas a essas questões importantes. Padre Dehon também teve que pensar em como anunciar e viver o Evangelho em seu mundo em constante mudança. Arriscou a pensar, a consultar pessoas que estavam no mundo da indústria, a mergulhar no nascente pensamento social cristão e, graças a esse esforço, parte de nossa espiritualidade foi forjada.
2. As Comissões Teológicas Continentais refletiram durante um ano sobre como falar de uma economia para todos. Elaboraram reflexões onde Justiça, Sustentabilidade e Inclusão foram levadas em conta como elementos essenciais para viver de modo cristão. Depois de um ano, aqui em Madri, as Comissões tiveram que conversar com especialistas em economia, interlocutores experientes que abriram nosso espaço de diálogo teológico intercontinental. Daqui surgiram três inquietantes desafios que, acreditamos, devem ser aprofundados e trabalhados intelectual, pastoral e espiritualmente.
3. É possível uma economia justa para todos no Antropoceno e na pluralidade de culturas? Nossa resposta é sim, é possível e significa superar uma visão única da economia que atualmente se impõe. Somos desafiados a trabalhar de forma sinodal as diversas experiências, vozes e visões, assumindo juntos as injustiças de nossas economias. Palavras como “Ubuntu”, “Bom Viver” (buen vivir) ou “Comum” (commons) nos lembram que o Evangelho deve ser pensado no atual contexto difícil, plural, mas ao mesmo tempo fascinante. É cativante porque está cheio de ideias, sonhos e interpretações diferentes. Nosso desafio é saber reparar as feridas causadas por uma visão dominante e nos escutarmos para construir o poliedro de vozes e visões envolventes.
4. O desenvolvimento sustentável e respeitoso é possível em um mundo caracterizado por uma economia predatória? Mais do que perguntar se é possível, devemos afirmar que é realmente necessário. Devemos apostar numa economia humana e ecológica, onde a natureza seja vista como espaço de vida e não como recurso de rentabilidade financeira. É necessário pensar, implementar e gerir boas práticas na utilização dos recursos para deixar de ser predadores daquilo que pertence à comunidade viva do planeta (água, terra, vegetação e fauna). Nosso desafio: repensar a oblação como forma de relacionamento dada pelo Espírito. Oblação é o oposto de depredação. A oblação é respeitosa, sincera, dócil, empática e doadora.
5. É possível um modelo econômico inclusivo? Esse talvez seja um dos maiores desafios e não pode acontecer à margem dos dois aspectos anteriores. Pode-se estabelecer um sistema justo e ainda ser surdo àqueles que pensam diferente de nós. Podemos construir parques, jardins, usar energia limpa e, ao mesmo tempo, comprar produtos mais baratos feitos por empresas que poluem em outros países. É possível tranquilizar as consciências através da ajuda e, ao mesmo tempo, erguer muros para defender o privado de possíveis ameaças do exterior. É comum falar em direitos humanos e, ao mesmo tempo, tribalizar a cidadania e autorização de residência para pessoas de países mais pobres. Incluir não é uma tarefa fácil. Eis um grande desafio: reconhecer, conhecer, amar e trabalhar em favor do diferente. É um desafio de época, que vai na contracorrente, exige sair do espaço tribal, des-absolutizar a propriedade privada e apostar no comum aberto ao outro diferente, que deve deixar de ser estranho para se tornar irmão.
6. A tarefa do Seminário não termina com o nosso encontro. A tarefa deve continuar. A Assembleia convida as Comissões Continentais a assumirem a tarefa de continuar a reflexão sobre nossa Espiritualidade e Economia e propagar os resultados das respectivas entidades. A missão de Padre Dehon deve continuar em nosso tempo.