Uma fraternidade nascida sob o signo da providência e que vive a reparação dehoniana
Os Dehonianos abriram uma nova presença na Itália, perto de Bolonha. É uma fraternidade em que, na realidade, convivem várias vocações. Não se identifica numa obra, mas num estilo de vida. Caracteriza-se pelo empenho no âmbito social, especialmente no mundo das prisões. Uma forma concreta de viver o carisma da reparação.
A “Fraternità Tuscolano 99” é uma realidade em que convivem diferentes vocações. Começou a formar-se há dez anos à volta de um projeto de acolhimento.
A ideia é uma fraternidade amigável e hospitaleira e, sempre que possível, uma experiência de fé.
A hospitalidade é a palavra-chave deste projeto: uma casa onde os hóspedes se sintam em casa.
Com base nesta ideia surgiu uma inspiração: o hóspede principal e constante poderia ser Deus. Este pensamento foi ganhando terreno; depois tivemos de falar e rezar para o compreendermos. Para criar um clima que levasse Deus a sentir que nós não precisávamos que ele andasse com uma máscara no rosto.
O P. Enzo Franchini, com as suas extraordinárias intuições espirituais, tem acompanhado o caminho da Fraternidade desde o início. Partilhámos a sua convicção de que esta Igreja deve começar uma nova história. Sentimos a vocação de ser centelha de uma nova Igreja, não hierárquica e muito inclusiva de pessoas diferentes até pela orientação espiritual, visão de fé e experiência de Deus.
Uma Fraternidade sob o signo da Providência
Ia-se tornando cada vez mais forte em nós a convicção de que estávamos a formar um grupo sob o signo de Providência.
Com o passar do tempo, tornava-se urgente chegar a viver em conjunto; começámos a chamar-lhe Fraternidade.
A procura de uma casa foi bastante longa, cheia de deceções e de novas oportunidades. Acontecimentos que envolveram a Cúria, paróquias e órgãos de governo dehonianos e missionários. Estamos convencidos de que a Providência nos acompanhou passo a passo, porque sempre que – traumaticamente – se fechava uma perspetiva na qual tínhamos investido, abria-se uma melhor.
Olhando para trás, foi tudo obra da Providência. Assim, a Fraternidade teve tempo para construir melhor a sua identidade, fixando bem a decisão de não se constituir como uma obra de fundação.
Assim “aterrámos” no complexo agrícola disponibilizado pela Paróquia de São Sabino e São Silvestre em Corticella (Bolonha) que, com uma generosidade mais única que rara, doou a propriedade e pagou quase todos os custos de reconstrução. Chamamos-lhe Casa Don Giuseppe Nozzi, em memória de um dos párocos de Corticella, lembrado com afeto e gratidão pela comunidade paroquial pela sua simplicidade acolhedora e por ser um “grande homem da caridade”.
Temos grande estima pelos tempos de oração em comum. Reunimo-nos diariamente para a adoração e para a recitação da liturgia das horas. Atualmente, celebramos a Eucaristia ferial na Casa da Caridade, que fica ali ao lado, juntamente com os convidados (deficientes), irmãs Carmelitas e voluntários.
Fraternidade não comunidade religiosa
Não nos consideramos uma obra prima. Existem outras experiências de convivência semelhantes à nossa, e nós já as analisámos.
A nossa convivência não está codificada em estruturas predefinidas, não compreende votos ou hierarquias, que são o pilar das comunidades religiosas.
A nossa é uma fraternidade porque responde a estas características:
- a) relações iguais entre todos os membros;
- b) pertença desligada de fórmulas;
- c) diferentes modos e intensidades de adesão;
- d) mais ênfase à responsabilidade que ao papel que se assume.
É importante lembrar também que nos consideramos em evolução aberta e contínua.
Vocação ao acolhimento de nós mesmos, de Deus, dos outros
Para nós, acolher é uma atitude do coração e um programa de vida, que confere substância sacramental à vida pessoal e comunitária.
Exprime-se, em primeiro lugar e acima de tudo, para com Deus, para manter uma comunhão fraterna viva, em que Ele possa sentir-se bem, entre amigos.
Exprime-se para connosco mesmos: sabendo que somos acolhidos por Deus, abandonamo-nos a Ele assim como somos; combinando os nossos desejos com a sua graça na confiança mútua.
Exprime-se para com os outros, tanto para com os de dentro da fraternidade como para com qualquer pessoa que entre em contacto com ela. Na certeza de que o acolhimento recíproco gera vida boa e repara o mal profundo da solidão, um mal que até a Deus mete mede.
Reunimos diferentes sujeitos (religiosos, consagrados, famílias, trabalhadores sociais individuais…), não para unir forças, mas precisamente para nos partilharmos a nós mesmos e para que cada um receba o dom dos carismas dos outros. A paridade deriva da convicção de que cada um está completo no que dá e recebe.
Vocação para ser um fragmento de Igreja nascente, familiar e livre
A fraternidade insere-se na vida do território e da Igreja local. Colabora com todos os organismos existentes que promovem a formação, a inclusão e a solidariedade.
Participa ativamente na missão da Igreja local. Embora não assumindo a titularidade da paróquia, colabora nas atividades de evangelização e pastoral.
Sonhamos com uma Igreja que faça crescer livremente novas sementes.
Tentamos pôr em circulação energias positivas de fé viva.
Estamos dentro da Igreja de forma crítica, mas com todo o amor que sentimos pelo Corpo de Jesus.
Não estamos a fundar uma obra
Propomo-nos viver juntos não para criar uma obra, nem um serviço pastoral especializado, mas para viver uma experiência de comunhão e fraternidade, que não se deixe corromper por inevitáveis conflitos de carácter. Porque acreditamos que a comunhão entre nós pode ter como fundamento o Corpo Místico, em que a comunicação passa pelo próprio Jesus.
A casa de acolhimento para reclusos
No complexo da Casa Don Giuseppe Nozzi, dois dos cinco edifícios estão ao serviço da Casa Corticella, que alberga uma iniciativa para reclusos.
Foi confiada pela Arquidiocese de Bolonha à direção do CEIS (Cooperativa Sociale Il Pettirosso). Com a colaboração do capelão da prisão – P. Marcello Matté, um dehoniano – pode acolher até oito pessoas sujeitas a execução das suas penas. Para eles e com eles é construído um projeto de autonomia (isto é, casa e trabalho), oferecido como uma oportunidade para um futuro de um “bom cidadão”.
Atualmente, o sistema de serviços sociais não se encarrega das pessoas com cadastro prisional, o que significa que estas pessoas ficam entregues à sua sorte, quase incentivadas a reincidir (estatisticamente 70%, uma percentagem inaceitável).
A prisão, tal como está organizada em Itália, não ajuda à reintegração. Não é verdade que a prisão produz mais segurança, apesar da “mitologia” alimentada por interesses eleitorais.
Embora o acompanhamento destas pessoas nos últimos meses da execução da pena prometa de facto uma redução substancial da “reincidência” (regresso ao crime), os serviços sociais não lhe atribuem quaisquer recursos.
Por enquanto, portanto, o projeto de acolhimento da Casa Corticella, tal como outras comunidades de acolhimento, é de inteira responsabilidade dos promotores e inquilinos.
Por isso é que faz parte do projeto também a sensibilização civil e a advocacia política, para “sistematizar” a reintegração de pessoas com um passado criminoso.
Para nós, é uma expressão sólida de reparação, pessoal e social, e de inteligência política.